Dia 22 de Abril é o Dia Internacional do Planeta Terra
Celebrando o dia da Terra ...e roubando o texto de uma colega de Faculdade:
A NOSSA CASA/CAUSA COMUM: A TERRA
Todos temos, ou vamos tendo, causas que nos mobilizam, em que investimos convicções, a razão e os afectos, e na defesa das quais esgrimimos de forma mais ou menos determinada os argumentos com que acreditamos ganhar adeptos para a nossa causa. Quando argumentamos pela conservação da natureza, é habitual elegermos esta ou aquela espécie, um habitat particular ou um ecossistema como objectivo prioritário. Neste exercício de escolha, quantas vezes pensamos na Terra? Muito raramente reflectimos sobre o nosso planeta enquanto sistema vivo que mantém a dinâmica do conjunto dos elementos que adoptamos de forma independente. Mas num mundo global, a consciência de que os problemas ambientais têm expressão global é cada vez maior; a percepção ecocêntrica do mundo vai ganhando terreno e espero que não deixe de contaminar a reflexão sobre o futuro do planeta e as opções de desenvolvimento.
O empobrecimento biológico da Terra, a degradação generalizada dos sistemas vivos e inerente incapacidade para continuar a oferecer os bens e serviços a que nos habituámos, é cada vez mais evidente aos olhos de qualquer cidadão mais atento. A extinção de algumas espécies e a vulnerabilidade de outras cuja complexidade é um notável brinde da evolução, confronta-nos diariamente com a nossa própria impotência e com a angústia de uma Humanidade desajustada do seu próprio planeta, da sua casa. As ameaças sobre o planeta são profundas e globais, exigindo uma visão global para ultrapassar o risco de um desequilíbrio irremediável dos sistemas que sustentam a vida na Terra. Neste sentido, a ameaça das alterações climáticas e do seu impacte sobre o planeta – 50% da diversidade biológica da Terra desaparecerá em resultado das alterações do clima ao longo deste século – colocam-nos perante o desafio ambiental e político mais complexo e decisivo para o futuro da Humanidade.
Um olhar honesto sobre o mundo em que vivemos, transporta-nos irremediavelmente para a implacável realidade de uma trajectória insustentável. Num mundo profundamente desequilibrado, em que a distribuição da população mundial é essencialmente urbana e maioritária em continentes e países onde se verifica escassez de recursos alimentares, em que se delapidam os recursos naturais a um ritmo demolidor, onde se contabilizam os maiores problemas de saúde pública, em especial infantil, em que os recursos hídricos escasseiam em quantidade e sobretudo em qualidade, em que a contaminação dos ecossistemas é frequentemente irreversível, em que a fragilidade económica e social convive com a degradação ambiental, como vamos conseguir refrear o ímpeto de um desenvolvimento quimérico e estabelecer regras globais que imponham à Humanidade os limites ao consumo e os princípios de sustentabilidade que o planeta exige?
Tudo o se pode fazer me parece pouco. Tudo o que se pode fazer para impedir que a construção da barragem no rio Baixo Sabor destrua um dos ecossistemas mais significativos de Portugal, tudo o se pode fazer para garantir a viabilidade da rede Natura 2000 na Europa, incluindo as áreas marinhas, tudo o que se pode ainda fazer para assegurar a certificação florestal e prevenir o comércio ilegal de madeiras exóticas à escala global, ou tudo o que ainda se pode fazer para suster a delapidação dos recursos pesqueiros, tudo me parece muito pouco, mesmo muito pouco. É claro que não podemos abdicar desta escala de actuação mas as alterações climáticas confrontam-nos agora com uma ameaça verdadeiramente global, cujo impacte é afinal mais próximo e mais imediato do que suponhamos. Para vencer esta ameaça, a Terra pede uma resposta política global e uma nova configuração das instituições internacionais com responsabilidade pela política ambiental, no sentido de uma maior concentração e reforço das suas competências.
Helena Freitas